Responsável pelo trabalho de restauro, Maria Helena Chartuni relembra o trabalho que fez para ‘salvar’ a imagem de Nossa Senhora Aparecida e diz ter sentido ajuda da Santa.
Hoje protegida em um nicho de ouro blindado a quatro metros do chão no Santuário Nacional de Aparecida (SP), onde fica em exposição, a imagem original de Nossa Senhora precisou ser restaurada há 45 anos, após ser quebrada em mais de 200 pedaços.
O atentado aconteceu no dia 16 de maio de 1978 durante uma missa na Basílica Velha em Aparecida. A imagem, que ficava em um cofre no altar, foi retirada por um jovem de 19 anos, que a derrubou no chão.
A imagem, que ficou muito danificada – situação que causou comoção por parte dos devotos na época – foi encaminhada ao Museu de Arte de São Paulo (Masp) para passar pelo processo de restauro.
Quebrada em 200 pedaços
A missão de restaurar a imagem foi delegada à artista plástica e chefe do Departamento de Restauração do museu, Maria Helena Chartuni. Ela, que até então não era devota, teve a vida transformada pelo trabalho, que classifica como o mais marcante e especial da sua vida.
“Assim que me escolheram eu perguntei: ‘Está muito quebrada?’. Responderam que seria tranquilo restaurar, mas quando eu vi foi um choque. A cabeça estava muito danificada. Aí, sim, tive a noção real do estrago. Era muito pesada e por isso quebrou muito, em mais de 200 pedaços”, lembra Chartuni.
Apesar de ter sido escolhida para a restauração, a artista conta que não era devota de Nossa Senhora Aparecida e não tinha relação com a Santa. Para ela, era como se fosse mais um trabalho em uma obra normal.
“Caiu no meu colo e foi um choque pela responsabilidade que estavam atribuindo a isso e pela dificuldade enorme do trabalho, mas para mim a imagem em si era indiferente. Eu não tinha ligação”, conta.
Entrega do trabalho
Após os 33 dias de trabalho, Chartuni entregou a imagem restaurada de Nossa Senhora Aparecida à direção do Masp. A partir disso, foi elaborada uma operação para encaminhar a imagem de volta ao Santuário Nacional, no interior de São Paulo.
Isso aconteceu no dia 19 agosto de 1978. O trajeto começou no vão do Masp e seguiu até Aparecida, em um caminhão do Corpo de Bombeiros em um cortejo acompanhado por milhares de fiéis. Uma multidão de devotos se aglomerava nos locais em que a operação passava.
O episódio também é inesquecível para Maria Helena, que só aí teve real noção da importância do trabalho que havia acabado de fazer.
“A fé das pessoas me chocou. Elas se ajoelhavam. Filas quilométricas na entrada do santuário. Eu estive lá e as pessoas me agradeciam, emocionadas. Beijavam a minha mão”, se recorda, também emocionada.